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Saudi Aramco: a empresa responsável pela riqueza Saudita

Em dezembro de 2019, a Saudi Aramco, petroleira estatal da Arabia Saudita, foi a protagonista de um dos maiores IPOs já vistos na história: a empresa conseguiu captar 25,6 bilhões de dólares em sua oferta pública inicial, ultrapassando o recorde da varejista chinesa Alibaba, a qual, em 2014, levantou US$ 25 bilhões de dólares em sua abertura de capital. No explicaê dessa semana, vamos abordar como uma companhia fundada no meio do deserto se tornou uma das empresas mais valiosas, influentes e lucrativas do mundo.







História

Até meados de 1930, o território saudita era um vasto deserto, pouco povoado e disputado por tribos nômades. Sua unificação aconteceu de forma tardia em 1932, e o responsável por essa conquista foi Abdelazize Ibn Saud. É do nome dele que vem o nome do reino saudita, e a associação entre o nome da família e o nome do país é extremamente importante para entender como são geridos os negócios e a política na Arábia Saudita contemporânea. Desde sua fundação até os dias de hoje, o país funciona como propriedade privada dos membros da família Saud.


Em 1938, o primeiro poço de petróleo no território foi achado. No entanto, o país recém formado não dispunha de tecnologia para prospectar e explorar a matéria prima que possuía, e por isso buscou parceria com os EUA para fazer essa exploração. Em um sistema de consórcio, a companhia norte americana Standard Oil Company of California, que mais tarde viria a se tornar a Chevron, juntamente com o Estado saudita criaram a Arabian American Oil Company (Aramco), que começou a pesquisar, extrair e bombear o petróleo da região para o Mediterrâneo.




Fonte: History

Apenas 10 anos após a primeira perfuração, a empresa já tinha se consolidado como uma das maiores exportadoras de petróleo do mundo, e na mesma época, uma mudança no acordo entre o reino e os norte americanos fez com que a Aramco passasse a pagar metade de seus lucros para os sauditas, dando origem a fortuna que o país tem hoje.


Já em 1970, com o fim do acordo entre os dois países, a Arábia Saudita adquiriu mais uma parte da empresa, se tornando acionista majoritária, e na década de 1980, a empresa foi totalmente comprada e nacionalizada, sendo rebatizada de Saudi Arabian Oil Company, ou Saudi Aramco.




Fonte: Bloomberg

A partir de 1990, A Saudi Aramco passou a investir bilhões de dólares em projetos de capacidade de produção e expansão, chegando a conseguir produzir atualmente cerca de 12 milhões de barris de petróleo por dia, além de ter outros 260 bilhões de barris de reserva comprovados, o que torna o país o segundo maior possuidor de reservas de petróleo do mundo, perdendo apenas para a Venezuela. A empresa também investiu em filiais e refinarias em outros países, além de redes de oleodutos nacionais e internacionais.




Fonte: BBC

A maior relevância e vantagem da companhia, no entanto, se deve ao fato dela ser a única detentora de todo o monopólio de extração de petróleo do país e o custo dessa extração ser bem mais baixo. Por estarem relativamente mais próximas à superfície, as reservas de petróleo sauditas se tornam mais acessíveis e, consequentemente, mais baratas para serem retiradas, o que traz uma grande vantagem para o reino em relação aos concorrentes da região. A exemplo, temos que o custo de extração de um barril de petróleo para eles é de US$ 10, enquanto que o custo de extração do mesmo tipo de petróleo na região do Mar do Norte chega a US$ 60 por barril. Grande parte dessa diferença de custo pode ser revertida em lucro para a empresa.




Fonte: BBC

Abertura de capital


Até pouco tempo sigilosa e envolta em mistérios - seguindo a maneira de governo presente em seu país - a companhia veio se transformando nos últimos anos a medida que se preparava para sua abertura de capital em bolsa, uma vez que a transparência em suas contas era um pré-requisito para seu lançamento. Ela começou a publicar seus resultados financeiros, realizar sessões de respostas a dúvidas sobre a empresa e até mesmo levar jornalistas para visitar suas instalações após os ataques de drones, que ocorreram em setembro de 2019.


Os resultados divulgados mostraram uma empresa extremamente lucrativa: no primeiro semestre de 2019 obteve lucro líquido de US$ 46,9 bilhões, pago quase na totalidade em dividendos ao estado saudita. A exemplo de comparação, no mesmo período de tempo, a Apple registrou lucro líquido de US$ 21,6 bilhões, e a Exxon Mobil, maior petrolífera listada na bolsa, de US$ 5,5 bilhões.


Após um período de negociações, a empresa finalmente fez sua oferta pública inicial em dezembro de 2019, na bolsa de valores da Arábia Saudita, a Tadawul, e foram disponibilizados cerca de 1,5% do capital social da companhia. As ações colocadas à venda - cerca de 3 bilhões de ações - foram precificadas no topo da faixa indicativa de US$ 3,53, movimentando US$ 25,6 bilhões. Dessa maneira, a Saudi Aramco se coroou como uma das rainhas dos IPOs, protagonizando um dos maiores valores arrecadados em uma abertura de capital.




Fonte: Bloomberg

Mas por que a empresa quis fazer uma oferta pública de capital?


A abertura de capital era uma etapa considerada peça chave no plano de reformas chamado “Vision 2030”, liderado pelo príncipe-herdeiro Mohammad bin Salman, para diversificar a economia do país, que é extremamente dependente do petróleo.





Em um cenário em que a preocupação por parte de alguns governos com o aquecimento global vem crescendo e se traduzindo em incentivos para expansão do uso de fontes de energia que minimizem a emissão de gases do efeito estufa, fica insustentável a Arábia Saudita manter a dependência da renda do petróleo. Diante disso, o país anunciou um conjunto de medidas visando a diversificação de sua economia, utilizando suas enormes reservas de petróleo como alavanca para executar um ambicioso plano de reestruturação econômica, o qual tem como meta encontrar novas fontes de receita para o reino, a fim de alcançar a “independência” das exportações de petróleo até 2030.


A pergunta que ainda pode ficar é: mas então por que alguém investiria em uma empresa do setor petrolífero consciente das atuais tentativas mundiais de diminuir o uso de combustíveis fósseis ?


A resposta para essa pergunta está no custo de operação da Saudi Aramco. Apesar do futuro um tanto quanto incerto do petróleo, a demanda deve persistir para as empresas capazes de extrair o commodity a custos mínimos, como é o caso da Aramco, que, como já citado acima, apresenta um custo de extração médio de US$ 10 por barril, cerca de seis vezes menor que as empresas que exploram o Mar do Norte. Com essa vantagem competitiva invejável, a gigante saudita parece conseguir se manter estável, lucrativa e influente mesmo em um contexto de mudanças, o que aparentemente é o sonho de consumo de muitos investidores.

Autora: Nicole Maria Onofre LinkedIn: Nicole Onofre | LinkedIn


Referências

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