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Explicaê 7.4: Os efeitos do coronavírus na economia

Em dezembro de 2019, um novo vírus começou a circular na China e assustar sua população. Até então desconhecido, o vírus foi denominado "SARS-CoV-2" e a doença causada por ele "COVID-19", com seus sintomas sendo, principalmente, febre, tosse e dificuldade de respirar. No fim de janeiro e início de fevereiro, o número de novos casos no país era muito alto e, no dia 10 de fevereiro, o número de mortes já passava de mil.


À medida que o tempo passava, o número de infectados e mortos pelo vírus aumentava não só nesse país, que foi o primeiro epicentro da doença, mas também em cada vez mais países, até que, no dia 11 de março de 2020, a Organização Mundial da Saúde (OMS) decretou pandemia.


A partir daí, surgiram cada vez mais recomendações e restrições da OMS. Com o decreto de quarentena, as pessoas se viram, então, obrigadas a ficarem em casa. A fim de diminuir o contágio do vírus (muito alto comparado com outros), aulas de escolas e universidades foram suspensas, empresas adotaram o home office e lojas, shoppings, restaurantes e fábricas foram fechados. Os países que não adotaram a quarentena se depararam com muitos infectados e mortos, um deles, os Estados Unidos, se tornou o segundo epicentro da doença.


Assim, muitas coisas começaram a mudar de um jeito que nunca teríamos imaginado antes, com impactos cada vez maiores. Aqui no Brasil, por exemplo, o Índice Ibovespa passou de 115.370,61 pontos, no dia do decreto da OMS (11/02), para 62.818,74 no dia 23/03. Ou seja, em pouco mais de um mês, o índice caiu para pouco mais que a metade.


Figura 1 - Evolução do índice IBOVESPA.

Além disso, apenas em março, a B3 acionou 6 vezes o circuit breaker, mecanismo de segurança que interrompe todas as operações da bolsa, a fim de proteger e acalmar a volatilidade excessiva do mercado financeiro. É acionado nos momentos em que as ações negociadas nesse mercado sofrem grandes quedas consideradas atípicas em seus preços. O coronavírus foi um dos motivos para o acionamento, acompanhado pela queda no preço do petróleo e do corte das taxas de juros.


O corte das taxas de juros também está relacionado com coronavírus. A redução da taxa Selic, conhecida como taxa básica, faz o crédito ficar mais barato, incentivando a produção e o consumo. Assim, influenciado pelos efeitos do coronavírus na economia brasileira, o Copom têm feito baixas consecutivas, levando a taxa básica a 3,0%, menor patamar da história.


Com todos esses efeitos do coronavírus, fica evidente que ele vem afetando diretamente todos os mercados ao redor do mundo. O Fundo Monetário Internacional (FMI) já afirmou que essa pandemia está levando a economia mundial a uma nova recessão e, para muitos economistas, os impactos do vírus já têm um choque maior do que a crise financeira de 2008.

MERCADO DE CAPITAIS

Em relação ao mercado de capitais, pode-se afirmar que é o principal tipo de investimento afetado com a propagação do coronavírus, uma vez que a maior parte das empresas negociadas nas bolsas bate de frente com as decisões dos governos para conter um possível contágio ainda maior. Um exemplo disso são algumas companhias aéreas, como Azul e Gol, que por causa das viagens canceladas, suas ações já caíram mais de 80% no acumulado do ano passado.


Além disso, como já foi dito, apenas em março, a Bolsa de Valores de São Paulo acionou várias vezes o circuit breaker, além de apresentar a maior desvalorização dos últimos 22 anos neste mesmo mês.


O mercado tomado pela alta volatilidade e insegurança acarreta também em uma fuga de capital do mercado brasileiro (que representa o fenômeno mundial de desinvestimento em países emergentes), a fim de alocar este capital em ativos considerados como hedges de segurança natural, como o ouro e o dólar. De fato, o dólar vem apresentando uma enorme valorização frente ao real, e o preço do ouro também subiu.


Figura 2 - Evolução do preço do ouro desde 2012.

AVIAÇÃO E TURISMO

Com a suspensão de viagens e o cancelamento de voos, diversas empresas de aviação e turismo foram afetadas, dentre elas a Azul e a Gol, já mencionadas anteriormente, e também Latam e CVC. Ademais, inúmeros países, logo no início da pandemia, já tinham adotado medidas de restrições de viagens, visando conter o contágio do vírus. O setor de aviação, em específico, vai passar por uma nova consolidação e, infelizmente, várias empresas não irão aguentar.


Figura 3 - Países que tiveram restrições de viagens por causa do coronavírus.

O Ministério da Economia anunciou um "pacote de salvação", com redução do PIS/Cofins sobre querosene de aviação e a remoção do imposto sobre venda de passagens aéreas, a fim de tentar conter o caos nesse setor.

VAREJO E SERVIÇOS

Com o cenário atual, ou seja, shoppings e lojas fechados, este setor está sendo altamente atingido. Por depender da presença física do cliente, o faturamento desse setor terá uma queda brusca. Um fator que pode conter a queda do faturamento é a opção de venda online. Algumas lojas adotaram o e-commerce e, com a ajuda de promoções, estão conseguindo garantir algum retorno. Um ponto interessante de se ressaltar é que o e-commerce está em constante crescimento no Brasil desde 2012 e, ao aumentar sua participação no total de vendas do varejo nesse período da pandemia, isso pode aumentar ainda mais seu crescimento, consolidando essa participação e selando talvez o futuro de shoppings e lojas de varejo.


Figura 4 - Crescimento do E-Commerce durante a Pandemia.


O setor alimentício também está sofrendo bastante com a crise, uma vez que todos os restaurantes e bares estão fechados. Os únicos restaurantes que poderão faturar são os que optarem por fazer delivery, que é uma boa opção nesse momento, pelo fato de as pessoas preferirem pedir comida e recebê-las em suas casas do que irem ao supermercado para comprar.

SETOR AUTOMOBILÍSTICO E DE TECNOLOGIAS

No Brasil, estes dois setores estão passando por dificuldades e um dos motivos para isto é que ambos dependem de importações. Inúmeras fábricas apenas montam as peças que chegam dos Estados Unidos e da China. Com problemas também nesses países, faltam peças e os produtos enfrentam problemas para chegar às lojas.


Além disso, em uma época de crise como essa, a demanda desses produtos são reduzidas, o que faz com que o setor diminua sua produção. Em meados de março, a indústria automotiva já apresentava uma diminuição de 20,8% em sua produção, pior resultado dos últimos quatro anos. Na China, as vendas de carro tiveram uma queda de 90% logo nas duas primeiras semanas de fevereiro.


Figura 5 - Evolução nas vendas de carros na China.

SETOR DE CONSTRUÇÃO CIVIL

A curto prazo, devido às medidas de isolamento, há uma queda nas vendas e o adiamento de lançamento de obras. Com a incerteza predominando, a decisão de compra de um imóvel fica em standby.


Além disso, em relação ao andamento das obras, há um esforço conjunto para que a produção não seja paralisada. Assim, obras continuam sendo realizadas, mas com as medidas de distanciamento e práticas de higiene, o que faz com que as obras sejam operadas em menor nível.


A longo prazo, a queda geral da atividade econômica terá consequências diretas ao PIB, que por sua vez, impacta o nível geral de emprego e a renda da população. Por isso, a depender da intensidade e também da duração dessa queda de atividade econômica, a compra de um imóvel pode não só ser adiada, mas sim cancelada.

BRASIL: DADOS E PROJEÇÕES

O número de casos de COVID-19 no Brasil está aumentando exponencialmente. De acordo com os dados do Hospital John Hopkins, 691.758 casos já foram confirmados, com cerca de 1,6 milhões de infectados, de acordo com algumas estimativas, e 36.455 pessoas já morreram (08/06).


Devido à subnotificação de casos, juntamente com uma curva ascendente de novas mortes, o Brasil se tornou o mais novo epicentro da pandemia.



Figura 6 - Evolução nos casos de infectados por COVID-19 no Brasil em 08/06.

Para tentar amenizar os efeitos da pandemia na economia, o governo foi pressionado a agir. A primeira reação foi reforçar a necessidade de aprovação de reformas que aliviem os gastos públicos. No setor de saúde, o governo liberou bilhões de reais, além de suspender a cobrança de alíquotas de importação para produtos médicos e hospitalares até o fim de 2020. Ademais, há ações para apoiar empresas e consumidores e também há a garantia via crédito, por parte dos bancos públicos, para que haja dinheiro suficiente circulando na economia.


Um ponto importante a ser destacado é o desemprego. Com a crise, muitas empresas tiveram que diminuir o seu número de empregados, o que fez com que o desemprego atingisse 12,6%. Em relação a isso, foi criado um auxílio emergencial, de 600,00 reais, a fim de ajudar trabalhadores sem carteira assinada, desempregados e microempreendedores individuais durante a pandemia.


A partir destes e outros efeitos da pandemia do coronavírus, a projeção para o PIB brasileiro é de uma retração de 5,89%, de acordo com o último relatório Focus do Banco Central. Além disso, um estudo feito pelo Instituto Fiscal Independente, do Senado, aponta que essa pandemia pode incutir em efeitos na economia brasileira pelos próximos dez anos.

PANORAMA MUNDIAL

A pandemia mudou completamente as previsões do FMI e de economistas sobre a economia global. A economia mundial já estava desacelerando e teria um crescimento médio menor em 2020. Entretanto, a pandemia irá acelerar uma recessão que só estava prevista para 2021-2022. Os governos ao redor do mundo já anunciaram pacotes fiscais e estímulos de créditos para conter a recessão.


A tabela abaixo mostra a previsão de crescimento do PIB, do FMI, para as principais economias globais.



Alguns pontos interessantes:

Os Estados Unidos, maior economia mundial, estão lidando com a maior taxa de solicitação de seguro-desemprego da história;

A China, segunda maior economia mundial, terá sua primeira recessão trimestral em 28 anos;

O Japão, terceira maior economia mundial, cuja dívida é de mais de 200% do PIB, se encontra fragilizado diante do coronavírus. Shinzo Abe, primeiro-ministro Japonês, já anunciou pacotes de incentivo para evitar uma recessão mais grave.


Autoria: Luísa Damha (LMF São Carlos - USP e UFSCar)

Data de publicação: 04/06/2020


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