Ray Dalio é um investidor bilionário e fundador sócio da Bridgewater Associates. Através de suas estratégias de investimentos, conseguiu transformar sua gestora no maior fundo hedge do mundo.
Família e formação
Filho de imigrantes italianos - um saxofonista de nome Mario Dallolio e uma dona de casa chamada Ann Dallolio -, Raymond Thomas Dalio, mais conhecido como Ray Dalio, nasceu em 8 de agosto de 1949, no Queens, em Nova York. Teve uma vida comum durante a infância, e relata não ter sido grande destaque no colégio, já que suas notas não tinham um patamar notável.
Foi aos 12 anos que começou a se interessar pelos investimentos. Ao conseguir um emprego como caddy - carregador de equipamentos de golfe - em um clube de Long Island, teve o primeiro contato com o assunto ao ouvir o que os jogadores comentavam sobre o mercado de ações. A partir dessas informações, decidiu investir o salário de US $300 na compra de ações da - agora extinta - companhia aérea Northeast Airlines. Na época, a escolha das ações se mostrou certeira: pouco tempo depois do investimento, os papéis adquiridos por Dalio triplicaram de valor devido à uma operação de fusão da companhia com uma empresa concorrente.
A paixão pelos investimentos e o incentivo dos pais fizeram com que ele fosse para a Long Island University, onde se graduou em finanças em 1971.
Carreira no mercado financeiro
Depois de formado, conseguiu um emprego de verão na New York Stock Exchange (NYSE), a bolsa de valores de Nova York, onde conheceu e se fascinou pelo mercado futuro e pelo mercado de commodities.
Mais uma vez, o assunto de interesse se mostrou certeiro: na década de 1970, devido a problemas na economia norte-americana e à desvalorização do dólar, os investidores passaram a entrar com mais veemência no mercado de commodities. Com experiência no assunto, Dalio aceitou a proposta de emprego para se tornar diretor de commodities na Dominick & Dominick LLC - hoje chamada Dominick & Dickerman LLC - e, alguns anos depois, foi aceito na Harvard Business School para fazer seu MBA.
No ano seguinte, trabalhou para a Shearson Hayden Stone, onde atuou como broker e trader de futuros junto com o Sanford “Sandy” Weill, banqueiro filantropista que se tornaria presidente do Citigroup, aconselhando criadores de gado e produtores de grãos sobre gestão de risco. Após alguns episódios polêmicos - como a acusação de acertar o chefe com um soco depois de uma discussão e de contratar uma dançarina “exótica” para fazer uma performance na convenção anual da California Food & Grain Growers’ Association (Associação de Produtores de Alimentos e Grãos da Califórnia) -, Ray Dalio saiu da empresa demitido do cargo. Os episódios, no entanto, nunca foram confirmados pelo investidor, que conseguiu sair com uma reputação boa o suficiente para convencer alguns de seus antigos clientes a contratá-lo como consultor.
A Bridgewater Associates
Nascia assim, em 1975, a Bridgewater Associates. Dentro do apartamento de dois quartos, que dividia com um amigo, Ray Dalio aconselhava seus clientes sobre como gerenciar os riscos de seus investimentos. Foi ali também que desenvolveu a Daily Observations, uma série de artigos em que explicava sua visão sobre a economia de maneira prática. O conteúdo de alta qualidade que divulgava acabou por atrair muitos outros clientes, como por exemplo o McDonald 's.
Aos poucos, o foco da empresa foi mudando e, em 1987, ela abriu seu primeiro mandato sob gestão, de US $5 milhões, com focos em renda fixa e moedas.
Enquanto sua base de clientes e sua empresa crescia, Dalio elaborava a teoria de investimentos que tornaria seu fundo o mais lucrativo do mundo.
Segundo sua teoria, a economia global funciona em ciclos, os quais são repetidos durante transições políticas e econômicas. Dessa forma, seria possível criar um sistema capaz de prever os movimentos de alta e baixa do mercado. Para isso, seria necessário apenas que o investidor percebesse os pequenos eventos que funcionam como gatilhos para os padrões de ciclos econômicos. Essa estratégia foi aplicada na Bridgewater Associates e funcionou bem, fazendo com que o fundo tivesse retornos negativos em apenas três anos desde sua fundação.
Algumas outras estratégias adotadas pela empresa se mostraram extremamente inovadoras para a época, chegando a revolucionar o mercado de investimentos, como por exemplo a separação entre o beta - índice usado para medir o risco sistemático de um ativo usando como comparação o comportamento do mercado -, com retorno de mercado e gestão passiva, e o alfa - capacidade de um investimento render lucros acima do esperado pelo mercado -, com o propósito de alcançar retornos mais vantajosos, não relacionados com o mercado geral, mas sim com uma gestão ativa. O fundo ficou conhecido por combinar diversificação em ativos não correlacionados.
Para se ter um guia de estratégias de investimentos que pudesse ser usado por todos da empresa, os executivos da gestora compilaram centenas de “princípios” para serem usados como um manual pelos funcionários.
O erro e os princípios de Ray Dalio
Em 1982, Dalio previa que a economia global caminhava para uma grande depressão, causada por uma crise bancária nacional após uma dívida do México não ter sido paga. Confiante, o gestor chegou a dar entrevistas sobre o assunto e até foi chamado para falar no Congresso norte-americano, além de investir todo o dinheiro da Bridgewater levando em conta esse cenário como estratégia. No entanto, dessa vez a previsão estava errada. Muito errada. Ao invés da crise, o mercado entrou em uma onda otimista que permaneceu por cerca de 18 anos.
Com a perda do dinheiro que tinha e a fuga dos investidores, o gestor precisou demitir os 8 funcionários da época e emprestar US $4 mil de seu pai até que conseguisse pagar suas contas.
Dalio afirma que sua arrogância e exacerbada confiança na ocasião foram as responsáveis pelo erro, mas acredita que o incidente foi seu ponto de virada, já que foi a partir daquele momento que conseguiu se desenvolver a ponto de se tornar tão bem-sucedido quanto é atualmente.
Hoje, o gestor afirma que seu grande erro foi um de seus maiores aprendizados, já que com o episódio uma nova maneira de se pensar também foi descoberta: ao invés de afirmar “estou certo”, ele passou a se perguntar “como eu sei que estou certo?”. A melhor maneira encontrada para responder essa pergunta seria levá-la a um grupo de pensadores que tivessem a mesma missão que ele, mas pensassem de maneira diferente. Dessa forma, uma nova perspectiva de pensamento foi desenvolvida dentro da empresa, a qual foi chamada de “mente radicalmente aberta”, o que contribuiu para transformar a Bridgewater no que Dalio classifica como uma meritocracia de ideias, formada por pessoas inteligentes que desafiam umas às outras.
Outro pilar da cultura da companhia, que hoje é conhecida por ser baseada na transparência radical, também foi resultado de um evento crítico. Após receber um feedback de seus colegas - o co-CEO Bob Prince, a COO Giselle Wagner e o estrategista sênior e diretor de pesquisa Dan Bernstein - sobre seu estilo de gestão, o qual deixava os funcionários da empresa desmotivados e com baixa produtividade, Dalio percebeu que precisava mudar seu jeito e parte cultura da companhia ou teria problemas maiores num futuro próximo. O episódio também serviu de catapulta para que o gestor iniciasse a redação dos princípios da organização, os passos que as pessoas deveriam seguir para lidar com situações e suas consequências. O manual, que começou pequeno e foi crescendo ao longo do tempo, deu origem ao livro Princípios de Ray Dalio, que se tornou um best-seller assim que publicado em 2011.
Ray Dalio permaneceu no posto de co - CEO da Bridgewater Associates até 2018, quando a gestora passou por uma mudança na estrutura e passou a ser uma parceria, para aumentar a participação dos funcionários na companhia.
Autora: Nicole Maria Onofre | linkedin.
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