Nascido em Budapeste, Hungria, em 12 de agosto de 1930, György Schwartz, hoje conhecido por George Soros, é famoso por suas especulações de alto risco e sua carreira de sucesso que o tornou bilionário. Também, talvez ainda mais notável, é o que ele escolhe fazer com sua fortuna e as consequências dessas escolhas, colocando-o no cerne de diversas polêmicas, teorias da conspiração e por vezes em risco de vida. Hoje, com 90 anos, ele ainda se mantém na ativa como presidente da Open Society Foundation, financiando projetos e iniciativas que compartilham dos seus mesmos valores. Mas como um menino húngaro se tornou um dos mais influentes bilionários do planeta, conhecido até como o homem que quebrou o Banco da Inglaterra, e o que o fez tomar decisões e se envolver em tantas polêmicas?
Infância e estudos
György Schwartz nasceu em uma família judaica, mas desconectada de seu passado e de suas raízes Seu pai, Tivadar, foi um prisioneiro de guerra na Rússia durante a Primeira Guerra Mundial e era conhecido por falar Esperanto. Em 1936, Tivadar, atento com os movimentos sociais da época, decidiu mudar o sobrenome da família para se camuflar em meio a uma Hungria cada vez mais antissemita. Dessa maneira, surgiu o sobrenome Soros, significando “sucessor” em húngaro e “planará” em esperanto. Durante a Segunda Guerra Mundial, sua família se passou por cristãos por meio de documentos forjados para sobreviver, sendo que Soros se passou por afilhado de um oficial Húngaro. Ele ainda escreveu que este ano, 1944, foi o ano mais feliz de sua vida, pois permitiu ele ver o heroísmo de seu pai em salvar sua família e a de vários outros judeus.
Em 1947, Soros entrou na London School of Economics, onde foi estudante do filósofo Karl Popper e onde adquiriu o Mestrado em Filosofia em 1954. Mais tarde, conseguiu ainda um Doutorado em Filosofia. Essa vivência certamente influenciou em sua visão de mundo e em muitas de suas decisões em investimentos, filantropia e política, visões essas que vão ser apresentadas mais à frente.
Carreira no mercado financeiro
Durante seus estudos, Soros trabalhou como comerciante em lojas de conveniência, na região beira-mar e em diversos outros empregos, só para depois buscar mudança e conseguir um emprego no banco inglês Singer & Friedlander em 1954. Um colega de trabalho lhe sugeriu viajar para Nova York para trabalhar na empresa de seu pai e Soros o fez em 1956, trabalhando na F. M. Mayer com ativos europeus, em alta na época graças aos primórdios do Mercado Comum Europeu. Três anos depois, Soros entrou na Wertheim and Co. trabalhando com títulos europeu até 1963. Nesse período, ele desenvolveu a sua teoria da reflexividade que diz, em linhas gerais, que os vieses das pessoas se refletem na progressão econômica e essa por sua vez reflete nos vieses das pessoas, gerando sequências de crescimento/estouro de bolhas não previstas na teoria econômica vigente na época.
Entre 1963 e 1973, trabalhou como vice-presidente da Arnhold and S. Bleichroeder, Soros começou a testar suas estratégias de investimento com a criação de fundos. Após o sucesso de seus fundos, ele fundou em 1970 o Soros Fund Management e abandonou os outros fundos, evitando conflitos de interesse. O fundo depois foi renomeado para Quantum Fund e possuía $12 milhões, quantia que cresceu para $400 milhões em 1981 e foi nessa posição que Soros começou uma manobra notória pela qual ganhou a alcunha de “o homem que quebrou o Banco da Inglaterra”.
O episódio da Quarta-feira Negra
O Mecanismo de Taxa de Câmbio Europeu (MTC), visando a criação de uma moeda única na Europa, visa limitar as flutuações cambiais de países europeus antes de implementar o euro. Assim, países que se juntavam ao mecanismo deviam manter seus câmbios dentro de um limite pré-estabelecido, obrigando intervenção do governo caso necessário. A Inglaterra recusou se unir ao MTC em 1979, mas pressões políticas internas a fizeram reconsiderar e se unir em 1990, limitando as flutuações do câmbio em 6% no governo de Margaret Thatcher.
Contudo, a Inglaterra se encontrava em um cenário muito diferente de outros países europeus, principalmente da Alemanha: ela possuía uma taxa de inflação 3 vezes maior que a alemã e juros altos na casa de 15%. A situação se agravou quando a Alemanha aumentou os juros buscando frear a inflação crescente depois da reunificação alemã, pressionando o câmbio dos países europeus, e somado a isso a queda do dólar, no qual grande parte das exportações inglesas eram baseadas, enfraqueceram a libra esterlina. Ademais, turbulências políticas advindas da rejeição do Tratado de Maastricht complicaram ainda mais a posição dos ingleses, que acabaram ficando nos limites inferiores do limite de câmbio estabelecido pela MTC.
Soros já observava esse cenário há um bom tempo e foi montando uma posição forte vendido na libra esterlina, somando $10 milhões em libras, ou seja, apostando em sua queda. Junto com outros especuladores e a relutância do governo inglês de aumentar suas taxas de juros, a Inglaterra saiu do MTC e a libra esterlina despencou. Essa sequência de fatos rendeu lucro de $1 bilhão à Soros e custou £3.4 bilhões ao governo inglês. Esse episódio ficou conhecido como “Quarta-feira Negra” e Soros ficou conhecido como “o homem que quebrou o Banco da Inglaterra”. Em 2013, o Quantum Fund continuou na posição de hedge fund mais bem sucedido do mundo, gerando mais de $40 bilhões desde sua criação.
Esse tipo de manobra se repetiu em outras ocasiões e foi feita por outros especuladores, levando a críticas de diversos economistas que afirmavam que “eles não movimentavam o capital antecipando uma crise, mas faziam de tudo para desencadear a crise por diversão e lucro.” Nessa discussão, Soros disse que o período de recessões no início dos anos 2000 foi fruto de uma vertente fundamentalista do mercado, que dizia que o mercado se corrigiria sem a necessidade de intervenção do governo. A esse debate, Soros apresentou sua teoria da reflexividade como explicação.
Filantropia e polêmicas
A filantropia também marca a vida de Soros: na década de 70, ele financiava o estudo de jovens pretos na África do Sul em regime de apartheid. Em 1984, ele fundou na Hungria uma organização que depois se tornaria a Open Society Foundation e cresceria para atingir mais de 120 países. Dentre os programas que participou, incluim-se o patrocínio de universitários e pesquisadores no Leste Europeu, a transição democrática da Hungria e a luta contra a fome na África. Até 2017, estima-se que Soros tenha doado mais de $32 bilhões à Open Society Foundation, colocando Soros na posição de doador mais generoso do mundo, doando cerca de 64% de sua fortuna original.
A filantropia de Soros, porém, não foi sem consequências: seu apoio público a causas progressistas o colocaram no centro de teorias da conspiração, a maioria vindas da extrema direita. Esse movimento está presente em diversas partes do mundo, mas se intensificou após a Guerra do Iraque, quando Soros patrocinou o Partido Democrata nos Estados Unidos da América. Desde então, ele já foi associado com caravanas da América Central em direção aos EUA, com patrocínio à suportes populares e até com conspirações contra o Brexit. Diversas dessas falas tiveram e têm até hoje caráter agressivo e antissemita.
A situação chegou ao ponto de uma bomba ser enviada à Soros por correio, além de também terem sido enviadas bombas parecidas a Democratas e Liberais, como Barack Obama e Hillary Clinton. Nenhum dos dispositivos detonou.
Frente à essas notícias e ameaças, Soros, com seus 90 anos e ainda ativo em seus projetos de filantropia, disse: “Quando vejo quem está me atacando, vejo que estou fazendo algo certo. Estou orgulhoso dos inimigos que estou fazendo”
George Soros hoje possui patrimônio de cerca de $8.6 bilhões, estando na posição 288 da lista de pessoas mais ricas do mundo.
Fontes: Infomoney, BBC, Uol, Wikipedia
Autor: Nicolas Almeida Verras | LinkedIn
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