As pirâmides financeiras têm voltado a estar nas manchetes das notícias
mundiais, inclusive no Brasil. Em geral, algumas empresas ligadas ao mercado
financeiro digital têm sido acusadas de práticas desse esquema, causando
prejuízos aos investidores.
Porém, as chamadas pirâmides financeiras são bem mais antigas que o
mercado digital, e até hoje são defendidas por algumas pessoas, embora sejam
ilegais. Os esquemas são modelos comerciais nos quais os lucros estão baseados no
recrutamento progressivo de pessoas. Esse modelo comercial depende, exclusivamente, do recrutamento constante de investidores. É isso que, fundamentalmente, o torna insustentável – já que não existe a produção nem a criação de uma receita, mas apenas o repasse do dinheiro que entra.
O caso mais emblemático de pirâmide financeira no Brasil é o da Fazendas
Reunidas Boi Gordo, que prometia retornos espetaculares — até 42% em 18 meses
— em troca de investimentos coletivos em bezerros e no processo de “engorda do
gado". A companhia atraía incautos com comerciais de TV veiculados no horário
nobre nos anos 90 — com direito a propagandas apresentadas por Antônio
Fagundes nos intervalos de Rei do Gado , folhetim com temática rural.
O problema era que o lucro dos investidores não advinha do gado, e sim da
entrada de novos aplicadores, definição clássica de uma pirâmide financeira. O
esquema eclodiu em 2004, deixando um passivo de R$ 4,2 bilhões e lesando 32 mil
pessoas.
É comum também que esse esquema se aproveite de investimentos do
momento para chamar a atenção dos possíveis clientes. É o caso do atual modelo
de negócio conhecido como Marketing Multinível.
O aumento do interesse da população em buscar alternativas mais rentáveis
para investir seu dinheiro, muito por conta dos atuais cortes da taxa de juros e da
ilusão de se enriquecer rapidamente, fez com que o número de empresas ligadas
ao mercado financeiro que trabalham como pirâmides financeiras se multiplicarem
rapidamente. Estima- se que 2019 acabe mais famoso no Brasil como o ano das
pirâmides financeiras. JJ Invest, BNY Mellon, Unick Forex, Grupo Bitcoin Banco,
InDeal, FX Trade, os exemplos são inúmeros, sendo o mais notável o do agente
autônomo do Rio de Janeiro vinculado à corretora XP Investimentos que por meio
do escritório BankRio/Invest Smart deu um golpe de R$ 20 milhões em investidores.
A 18K Ronaldinho
Recentemente surgiu um novo “esquema de pirâmide” na mídia,
envolvendo duas atrações internacionais: Ronaldinho Gaúcho e Bitcoin.
A empresa não é nova. Fundada por Marcelo Lara, o negócio primeiro era a
venda de relógios esportivos em 2015, tendo Ronaldinho assinado um contrato
autorizando o vínculo com seu nome em 2016. Mais tarde, Ronaldinho também
autorizou a empresa a realizar o marketing multinível com outros artigos de
perfumaria; porém nunca autorizou o negócio de bitcoins, abordagem que
começou a ser utilizada pela empresa no início deste ano.
Mas como realmente funciona o negócio? A empresa promete retorno
garantido de 2% ao dia através de trading e arbitragem com Bitcoin, sendo o
investimento mínimo de US$ 30,00; além de bonificar os “sócios” do negócio com
US$ 336,00 por 3 indicações de novos membros.
Fraude?
Segundo o professor de finanças do Insper, Michael Viriato, “é uma pirâmide
pura, clássica” haja vista que o lucro não se dá pela venda de um produto como
ocorreria em um marketing multinível sustentável, mas, sim, através da indicação de
novos membros: quando não se conseguir mais novos membros, não se terá a
manutenção do retorno prometido, colapsando a pirâmide e prejudicando a
maioria dos sócios.
Exatamente pelo dano à economia popular, a prática de pirâmide
financeira é proibida no Brasil conforme dita a Lei 1.521/51 e Ronaldinho e seus
sócios estão sendo investigados pela Procuradoria Federal.
Embora o advogado do ex-jogador afirma que ele não tem envolvimento no
negócio de Bitcoins, o processo ainda está em andamento e é aguardado futuras
decisões sobre o crime.
Vale lembrar que a cultura de investimento cresce cada vez mais no Brasil e
este tipo de crime começará cada vez mais ser comum.
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