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  • LMF São Carlos

A fraude da IRB



O IRB Brasil RE (IRBR3) é uma empresa brasileira privada de capital aberto que atua no setor de resseguros e é considerada a maior de seu setor na América Latina. Possui 81 anos de história, e mesmo estando a muito tempo no mercado, seu IPO só aconteceu em 2017. Hoje a empresa detém aproximadamente 37% de market share.


Retrospectivamente, o IRB conseguiu abrir seu capital na bolsa após duas tentativas que falharam, e por isso estreou suas ações no dia 31/07/17. Seu IPO, ou oferta primária de ações, saiu a um valor de 1,3x o valor patrimonial da empresa, o que foi considerado razoável para players do setor. Outro detalhe interessante é que a oferta aconteceu no mercado secundário de ações, isso porque a União, que no caso era quem controlava a empresa, não realizou a venda de suas ações, mas sim o Banco do Brasil, o Itaú Unibanco, o Bradesco e a Caixa que conseguiram levantaram um montante de R$ 2 bilhões de reais, pela venda de uma parte de suas participações. Portanto o IPO, foi a última gota d’água necessária no processo de desestatização da empresa.


Aos poucos o IRB, foi ganhando o carisma e confiança dos investidores até se tornar uma das queridinhas da Bovespa. Entregando resultados muito acima da média do setor, com ROE (Return on equity) por volta dos 45% enquanto o restante das empresas bate na casa dos 15%, esse resultados foram um reflexo do crescimento dos prêmios em detrimento do pagamento de sinistros.


Por consequência disso, o valuation da empresa foi impulsionado e a IRBR3 chegou a ser negociada a um preço nove vezes maior que seu patrimônio líquido, e por isso o valor das suas ações só aumentaram entre 2017 e 2020, como pode ser visto na Figura 1.


Figura 1: Preço das IRBR3 de set/2017 a fev/2020 (Fonte: Investing)



Porém, esta tamanha valorização durou apenas até fevereiro de 2020, onde antes mesmo de ser impactada pela crise do COVID-19, a IRB teve seu próprio “Cisne Negro”. Tudo começou com uma carta da Squadra, uma das mais tradicionais gestoras de ações do Brasil, alegando irregularidades no balanço a IRB.


A resseguradora chegou até a responder a carta que, imediatamente foi rebatida por uma tréplica da gestora, em que acusavam as avaliações otimistas da sinistralidade, venda de participação em ativos “non-core”, ativos considerados menos importantes para a atividade da empresa, sem o devido detalhamento, entre outros fatores que resultaram na inflação bilionária do lucro da IRB em 2019. As cartas geraram bastante repercussão, o que resultou em uma queda na IRBR3 de 25,8%, saindo de R$44,92 para R$33,25.


As cartas da Squadra foram somente a ponta de um enorme iceberg que viria a ser descoberto. Logo após este evento, outros dois causaram a queda dos papéis da empresa em março de 2020. O primeiro deles foi a saída do presidente do conselho do IRB Ivan Monteiro, considerado uma referência no mercado com uma carreira fenomenal. Então, o segundo, e mais polêmico, foi a nota pública da Berkshire Hathaway de Warren Buffet que negou ser e afirmou nunca ter sido acionista da empresa. A inusitada e constrangedora negativa pública de Buffett veio após correr no mercado que diretores do IRB haviam dito que o fundo de Buffett tinha comprado ações da resseguradora brasileira. Por fim, após todo esse turbilhão o CEO José Carlos Cardoso e o CFO Fernando Passos renunciaram seus cargos.


Por conseguinte, em março as ações tiveram uma desvalorização de 70,89%, saindo de R$33,25 para R$9,68. Ademais, nesse mesmo mês bateu sua mínima histórica cotada a R$6,43 com 85% de queda em relação a fevereiro, como pode ser visto na Figura 2.


Figura 2: Preço da IRBR3 de fevereiro a março de 2020 (Fonte: Investing)



Em virtude de tais eventos catastróficos, o IRB passou por uma reestruturação de sua direção, com Antônio Cassio dos Santos como CEO e presidente do conselho e Werner Suffert como novo CFO, dando início a uma auditoria forense nas demonstrações da empresa.


Em junho foram divulgados os resultados do primeiro trimestre, com uma queda de 92% do lucro líquido em comparação com o mesmo período em 2019. Além disso, os números de 2018 e 2019 foram revisados e republicados com uma redução de R$ 670 milhões. Tais ajustes contábeis foram necessários pois um valor de R$ 1,3 bilhões em sinistros não havia sido lançado nos balanços anteriores. Além do balanço, foi constatado que houve um repasse irregular de R$ 60 milhões para ex-administradores e outros colaboradores e uma recompra de 2,85 milhões de ações, quantidade que extrapola o que o conselho administrativo do IRB havia autorizado.


Por fim, a IRBR3 hoje se encontra cotada a um valor próximo a R$6,20 e embora a empresa já tenha identificado todas as falhas contábeis e administrativas, não se sabe ao certo se o “novo IRB” entregará a mesma lucratividade vinda desde 2017. Porém, o que é consenso é que, o IRB possui uma solidez relevante e é um importante player no mercado nacional.


Autor: Gustavo Engler Goulart

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