Risco-Brasil cai 34% este ano, seguindo movimento global.
RIO DE JANEIRO - A melhora recente na Bolsa brasileira, que chegou a superar esta semana novo patamar recorde, veio acompanhada de uma redução na percepção de risco dos investidores estrangeiros em relação ao Brasil, como o governo tem celebrado. Mas este movimento acompanhou o de outros países emergentes. Segundo analistas, o impacto das decisões econômicas internas, embora importante, foi menor que a influência da conjuntura internacional. O risco-país do Brasil medido pelo CDS (credit default swap, espécie de seguro contra calote da dívida soberana do país) caiu de 283 pontos-base para 187 pontos este ano, um recuo de 34%. No CDS, quanto menor o valor, mais seguro o país é considerado para investir. Essa queda percentual, porém, foi apenas a 19ª maior em um grupo de 44 países, segundo levantamento do GLOBO na base de dados da Bloomberg. Nesse conjunto de países, o Brasil é considerado agora o 12º mais arriscado, apenas uma posição abaixo da que ocupava no começo do ano. O país ainda é considerado menos seguro para investir do que economias como Turquia (177 pontos), África do Sul (177) Indonésia (101), Peru (81) e Índia (76). "O que está acontecendo é que existe um ambiente global de excesso de liquidez. O mundo está vivendo hoje um crescimento sincronizado, uma coisa rara. Existe muito dinheiro sobrando com juro praticamente zero ou negativo. Como os investidores estão demandando mais retorno e risco, eles acabam indo para países emergentes. A sensação de risco no mundo hoje é menor", explicou Rogério Freitas, sócio na Florença Investimentos. Os três emergentes que tiveram a maior queda percentual do CDS no período foram Croácia (54%, para 105 pontos), Malásia (53%, para 66) e China (49%, para 59). Por outro lado, a Coreia do Sul, por sofrer as consequências do aumento das tensões com a Coreia do Norte, registrou aumento de 58% na percepção de risco, para 69 pontos. O segundo maior aumento foi da Venezuela, cujo CDS aumentou 36%, para 5.229 pontos -- o país é considerado, hoje, o mais arriscado para investir entre aqueles que têm títulos no mercado internacional. Nesta semana, o ministro do Planejamento, Dyogo Oliveira, celebrou em audiência pública na Câmara dos Deputados que o risco do Brasil medido pelo CDS está em níveis próximos ao patamar de quando o país ainda tinha grau de investimento. No período em que o país teve grau de investimento pela agência S&P, de abril de 2008 a setembro de 2015, a média do CDS brasileiro foi de 167. Em setembro de 2015, após a perda do selo de bom pagador, o indicador chegou a atingir 533 pontos.
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Queda de juros e da inflação
Segundo Hersz Ferman, da Elite Corretora, a parte mais relevante da queda da percepção de risco está ligada ao cenário externo. "Mas não podemos descartar como mudamos muito nesse ano. Tivemos a aprovação da TLP, uma melhora da governança nas empresas públicas, uma queda enorme de juros e da inflação. Isso tudo melhora o ambiente de negócios", disse Ferman.
O que é o Risco País? O Risco País é um indicador que tenta determinar o grau de instabilidade econômica de cada país, refletindo a percepção de segurança que o investidor externo tem em relação a estabilidade econômica, política e financeira desse país. Desta forma, o indicador se tornou decisivo para o futuro imediato de países emergentes, já que o investidor externo não investe somente no mercado de capitais, mas também na economia real, investindo, criando e comprando empresas.
Existem três formas mais comuns de medir o Risco País:
EMBI+: Sendo a medida mais utilizada pelo mercado para expressar o nível de risco de um país, o EMBI+(Emerging Markets Bond Index Plus) é calculado pelo J.P. Morgan desde dezembro de 1993. Com base nos valores das negociações diárias em mercado secundário, compara-se o juros implícitos dos títulos emitidos por governos de países emergentes, aos juros dos títulos de governo americano de igual prazo, considerados com risco zero. A diferença nessa comparação é a medida de risco, que é quanto a mais o governo tem que pagar para o investidor para compensar a probabilidade de um calote. Quanto maior o EMBI+, maior o risco do país. Este indicador concentra-se nos países emergentes, considerando dados de diversos países como Rússia, Bulgária, Marrocos, Nigéria, Filipinas, Polônia, África do Sul, Malásia e outros. Na América Latina, os índices mais significativos se concentram nas três maiores economia da região: Brasil, Argentina e México. O índice EMBI+BR é o correspondente ao Brasil e mede a capacidade do país de honrar seus compromissos financeiros. O risco é expresso em basis points (cada 100 basis points equivale a 1%) e é medido diariamente.
CDS: O CDS (credit default swaps) é um derivativo que permite comprar proteção contra calote do emissor de determinado ativo, sendo um seguro contra um evento de crédito(default). Para ter uma proteção contra um default, o comprador paga uma porcentagem do principal, conhecida como spread, premio ou taxa fixa, que representa o custo para essa proteção. Quanto maior a probabilidade de um default, maior será o premio/custo do CDS, funcionando como medida de risco de crédito. O CDS também pode ser expresso em basis points e é medido diariamente. Por exemplo, se um investidor compra proteção contra um evento de crédito para US$100 milhões em ativos soberanos brasileiros por 5 anos (CDS 5Y do Brasil), com prêmio anual de 200 pontos-base, fará pagamentos periódicos de US$2 milhões ao vendedor da proteção. Esses pagamentos são feitos até o vencimento do contrato ou a insolvência do emissor – o que ocorrer antes.
Rating: Espécie de “selo de qualidade” que as agências internacionais, sendo as principais a Standard & Poor’s (S&P), Moody’s e Fitch, aplicam em determinados países com base em critérios macroeconômicos de longo prazo como política fiscal, estabilidade política e econômica, reservas,e fatores sociais como liberdade de imprensa e distribuição de renda. A classificação de risco é atribuída ao país de acordo com a avaliação da capacidade do país em honrar seus compromissos a pagar dívidas. Por refletir a conjuntura do país no longo prazo, o rating tende a exibir uma estabilidade maior do que as outras medidas de risco país. Veja a situação atual de rating do Brasil calculado pelo S&P na tabela abaixo:
Consequências de um alto Risco País
Quando um país tem um alto RIsco-País ou este índice sofre um aumento,isto faz com que ocorra uma fuga de capitais estrangeiros, retraindo o fluxo de investimento no país e acarretando em um menor crescimento econômico e uma menor quantidade de recursos disponíveis, o que pode resultar em um aumento do desemprego.
Outra consequência é o aumento no custo de financiamento, dificultando para o governo e empresas o acesso em obter empréstimos no exterior com condições vantajosas. Além disso, com menos dólares disponíveis no mercado, a tendência é a desvalorização da moeda local. Alguns dos grandes fundos de investimento têm como política investir apenas em países com determinado Risco País.
A partir disso, para tornar o investimento atraente, o país tem que elevar as taxas de juros que remuneram os títulos da dívida.
O que é TLP?
TLP é a Taxa de Longo Prazo. A nova taxa entra em vigor em 1º de janeiro de 2018 e substituirá gradualmente a Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP), que dispõe sobre a remuneração dos recursos do Fundo de Participação do PIS-PASEP, do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) e do Fundo da Marinha Mercante (FMM) e sobre a remuneração dos financiamentos concedidos pelo Tesouro Nacional ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).