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  • LMF São Carlos

Explicaê 3.5 - Flutuação do mercado


Ibovespa tem máxima pós-delação da JBS e dólar afunda com condenação de Lula

O dia que já indicava alta para o Ibovespa com a vitória do governo no Senado com a reforma trabalhista, se tornou um pregão de grande euforia após o juiz federal Sérgio Moro condenar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva a nove anos e seis meses de prisão pelos crimes de lavagem de dinheiro e corrupção passiva no caso envolvendo o triplex no Guarujá.(...)

O benchmark da bolsa brasileira fechou com alta de 1,57%, aos 64.835 pontos, chegando a saltar quase 500 pontos em apenas cinco minutos no momento da notícia. Em seguida, o índice ainda manteve uma certa cautela em acentuar os ganhos, que ficaram em torno de 1% durante boa parte da tarde, para apenas na reta final ganhar força. O volume financeiro ficou em R$ 9,906 bilhões. Este é o maior fechamento do Ibovespa após a delação da JBS(...).Enquanto isso, o Dólar Comercial caiu 1,4%, cotado a R$3,2075 na venda, ao passo que o contrato futuro do dólar com vencimento em agosto teve perdas de 1,47%, para R$3,221.(...)

Termos:

Benchmark da Bolsa: “Benchmarks” são definidos como parâmetros de comparação. Ao dizer que o Benchmark da Bolsa subiu 1,57% temos que seu valor subiu esta porcentagem em relação ao dia anterior

O Volume Financeiro médio, que é o valor negociado na bolsa em um dia, da Bovespa é em média R$6,8 Bilhões.

Os ânimos de mercado:

A flutuação dos preços de mercado dos ativos tem sido objeto de um embate entre duas correntes diferentes de pensamento: de um lado estão os que defendem que os preços se formam com base em informações novas e que os investidores tomam decisões racionais, dentro dos pressupostos da Teoria de Eficiência de Mercado. De outro, há os que consideram que a realidade é muito mais complexa e que ninguém é capaz de levar em conta todas as variáveis na hora de investir e que parte dessa decisão tem também um componente humano ou emocional. Estes últimos, defensores das teorias ligadas às finanças das teorias governamentais, estão começando a ter maior influência no Mercado de Capitais. Pretendemos discutir o comportamento das oscilações dos ativos nos baseando nestas últimas teorias.

Sempre devemos ter em mente que o Mercado é ainda composto, em quase toda sua totalidade, por pessoas e é impossível que estas tomem atitudes estritamente racionais. Seguindo as teorias das finanças comportamentais, as decisões humanas podem ser influenciadas por diversos fatores como o ânimo geral dos players. Um consenso entre os indivíduos sobre determinada situação pode gerar resultados exacerbados, tanto positivos quanto negativos, mesmo que esta notícia não tivesse uma influência tão forte em uma análise mais fria. Estas situações normalmente resultam em movimentações altas e oportunidades que alguns analistas mais experientes tomam para comprar ativos quando estes sofrem uma queda brusca (que provavelmente será revertida) ou consolidarem altos ganhos quando o ativo se valoriza.

Nas últimas décadas, um novo tipo de participante entrou nos mercados: algoritmos programados para realizar friamente compras e vendas sob determinadas circunstâncias. O High Frequency Trading (Trading de Alta Frequência, do inglês) também atua como uma força potencializadora de movimentos do mercado. Resumidamente, os algoritmos são programados para realizar ordens de compra ou de venda mediante certos preços de um ativo, estabelecidos de acordo com a estratégia definidas por seu programador. Esta tecnologia, inicialmente designada para realizar um grande volume de transações com pequena margem de lucro, acaba potencializando movimentos de mercado causados por ondas de compra e venda de vendedores desesperados. A grande movimentação do mercado começa a romper os parâmetros dos algoritmos, forçando-os a entrar no sentido do movimento.

Passaremos a seguir alguns exemplos de situações, além da expressa na notícia, em que os ânimos de mercado influenciaram os valores dos ativos, e também os resultados posteriores à estas oscilações.

No dia 11/04/06, um dos primeiros passos rumo ao impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff aconteceu. Como vemos no gráfico abaixo, a aprovação do relatório pró-impeachment gerou um aumento de aproximadamente 7% em menos de 2 dias no Índice Bovespa. Podemos inferir que tal acontecimento passou confiança aos investidores (tanto domésticos quanto externos), os quais assumiram posições otimistas em relação ao país.


Em 2017 vivenciamos um catastrófico Circuit-Breaker na bolsa. No dia 17 de maio, um vazamento de um áudio onde supostamente o presidente Michel Temer mostra sua conivência com atos corruptos gerou grande pânico nos mercados. Muitos investidores tinham fé na agenda econômica proposta pelo presidente e sua equipe, que consistia em uma série de reformas visando a recuperação econômica do país. Ao depararem-se com a notícia mostrando corrupção por parte do presidente, acreditaram que ele não seria mais capaz de seguir com as reformas. O medo causado por esta situação fez com que vários tentassem alienar simultaneamente seus ativos, o que resultou em uma forte desvalorização do mercado como um todo (aproximadamente 9% em menos de um dia). Os algoritmos HFT intensificaram ainda mais a situação.


Notícia: http://g1.globo.com/politica/noticia/dono-da-jbs-gravou-temer-dando-autorizacao-para-comprar-silencio-de-cunha-diz-jornal.ghtml

Recentemente, dois eventos resultaram em uma valorização significativa da bolsa brasileira. Nos dias 11 e 12 de julho de 2017, o texto base da reforma trabalhista proposta foi aprovado no Senado e o ex-presidente Lula foi condenado a 9 anos e meio de prisão por acusações de corrupção. Ambos eventos trouxeram confiança e otimismo aos investidores, que responderam positivamente movimentando os mercados para cima.


Notícias: http://g1.globo.com/politica/noticia/apos-sessao-tumultuada-senado-aprova-texto-base-da-reforma-trabalhista.ghtml

http://g1.globo.com/pr/parana/noticia/lula-e-condenado-na-lava-jato-no-caso-do-triplex.ghtml

Devemos levar em consideração que a magnitude das movimentações está sendo menor. Isto é em parte pela alta instabilidade política no Brasil e pela saída prévia de investidores externos. A alta instabilidade faz com que o mercado precifique com antecedência tais eventos, e a ausência de investimento externo diminui o tamanho das movimentações.

É interessante também notar a movimentação contrária do dólar em relação à bolsa brasileira. Isto relaciona-se pois uma grande fração do capital da bolsa é composta por investimentos estrangeiros, e em situações de valorização da bolsa ocorre a entrada de dólares no mercado por parte destes investidores que resulta em desvalorização da moeda americana em frente ao real. O oposto também é verdadeiro, quando os investidores estrangeiros vendem seus ativos em situação de desvalorização eles retiram dólar do país, desvalorizando o real.

Em poucas palavras, os mercados são compostos em grande parte por players que respondem emocionalmente a notícias de alto impacto. Eles conseguem, no curto prazo, mover o preço de equilíbrio com muita facilidade, podendo distorcer preços e causar grandes prejuízos.

"Os algoritmos de trade (estratégias quantitativas) possuem regras de decisão e tem autonomia nas operações que irão realizar. É usual que os programadores desses algoritmos definam limites de perda quando uma tomada de decisão é mal sucedida (chamamos isso de stop loss). Nessas situações os robôs desfazem suas posições em ativos, comprando ou vendendo rapidamente e esse movimento de compra ou venda desequilibra a dinâmica de oferta e demanda dos ativos e altera fortemente os preços. Os humanos acabam reagindo também, dado que seus vieses emocionais e cognitivos alteram a forma como tomam decisões. Como uma vez disse Warren Buffet: "Eu não tenho sucesso por ser esperto, e sim por ser racional"".


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