LMF São Carlos
24 de abr de 20175 min
“BRASÍLIA - A caderneta de poupança marcou mais um mês com saque líquido dos recursos, o terceiro consecutivo, mas em volumes menores que os registrados no ano passado. De acordo com o Banco Central (BC), as retiradas líquidas somaram R$ 4,996 bilhões em março, após uma perda líquida de R$ 1,670 bilhão em fevereiro.
No primeiro trimestre, os saques superaram os depósitos em R$ 17,402 bilhões, ante R$ 24,050 bilhões em igual período do ano passado. Em março de 2016, os saques superaram os depósitos em R$ 5,379 bilhões.
Em 12 meses até março, os saques são de R$ 34,053 bilhões, recuando dos R$ 34,437 bilhões no intervalo de um ano até fevereiro.
O resultado de março não foi ainda pior graças ao ingresso de R$ 3,478 bilhões no último dia útil do mês. Até a véspera as saídas líquidas somavam R$ 8,474 bilhões.
A poupança encerrou o ano passado com saque de R$ 40,701 bilhões, abaixo da perda líquida de R$ 53,567 bilhões no ano anterior. Em 2014, a poupança teve captação de R$ 24,034 bilhões, após o recorde de R$ 71,047 bilhões de 2013.
Menor crescimento da renda do trabalhador e aumento do desemprego explicam o desempenho da poupança. Outro fator é que a caderneta ainda perde em rentabilidade para outros investimentos, apesar da isenção de imposto de renda e da queda da taxa Selic para 12,25% ao ano.
Os números também sugerem que os saques de contas inativas do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) não estão sendo destinados à tradicional caderneta. Também é possível que, mesmo com esses recursos, haja necessidade de sacar reservas para pagar as despesas do dia a dia. Foram entregues aos trabalhadores quase R$ 6 bilhões no mês passado. Em abril, a previsão é que devem entrar em circulação outros R$ 11,2 bilhões oriundos das contas inativas.
Como o saque líquido no mês foi maior que o rendimento de R$ 3,751 bilhões, o patrimônio total da poupança caiu de R$ 660,650 bilhões em fevereiro para R$ 659,405 bilhões no mês passado. Em 2016, o patrimônio subiu R$ 8,4 bilhões, após ter caído R$ 6,137 bilhões em 2015.
Em março, os bancos que aplicam recursos da caderneta em crédito imobiliário mostraram retirada líquida de R$ 3,542 bilhões (SBPE). As instituições que destinam os recursos para o crédito rural registram saída líquida de R$ 1,453 bilhão (SBPR).
Desde o fim de agosto de 2013, a poupança voltou a ser remunerada pela “fórmula antiga” de 0,5% ao mês mais TR. Pela regra atual, se a Selic voltar abaixo de 8,5% ao ano, o rendimento será equivalente a 70% da taxa básica de juros. Por ora, o mercado trabalha com Selic de 9,25% no fim de 2017, ainda acima dessa linha de corte. ”
Rentabilidade da Poupança:
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Remuneração no aniversário
Um fato curioso sobre a poupança é que, diferente de outros investimentos com alta liquidez, a poupança não tem sua remuneração feita diariamente, e sim mensalmente. Ou seja, a remuneração é feita sempre no dia do mês que o montante foi aplicado.
Dessa forma, se um poupador depositou na poupança no primeiro dia do mês e precisou resgatar no dia 31 ele dispõe exatamente da mesma quantia do início.
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Funcionamento da TR:
Porém, como mostrado na tabela, a TR costuma ficar bem abaixo da Selic. O motivo está na sua forma de cálculo, que utiliza um redutor, esse fator redutor é calculado a partir da média ponderada dos CDBs e de parâmetros determinados pelo governo. Isso significa que o governo tem o poder de manter a Taxa Referencial no patamar que desejar.Como visto, a poupança tem rendimento de 0,5% ao mês mais TR quando a Selic é superior a 8,5%. Mas como funciona a TR?
O cálculo da Taxa Referencial toma como base a média ponderada das taxas de juros pagas diariamente pelos CDBs das 30 maiores instituições financeiras do país.
Os CDBs são títulos de renda fixa que tem sua rentabilidade atrelada a uma porcentagem da Selic. Dessa forma, a variação da Taxa Referencial tem relação com a variação da Selic. Quando a taxa básica de juros sobe, a tendência é que a TR também suba, e vice-versa.
Uma última observação sobre a TR é que ela não pode ser negativa. Seu valor mínimo é zero. Quando isso ocorre o poupador limita-se a ganhar um máximo de 0,5% ao mês na poupança.
Por que a regra de 70% também não faz sentido?
Quando a Selic está menor 8,5% a.a. sua remuneração se torna 70% desta, e isso ainda é muito baixo em comparação com outros investimentos. Mesmo quando consideramos o Imposto de Renda.
O tesouro nacional também oferece um título atrelado à Selic. O Tesouro Selic.
Analisando o Tesouro Selic quanto a risco, liquidez e rentabilidade fica claro o porquê da fuga de capital da poupança.
Risco- O Tesouro Selic está submetido ao risco do Tesouro Nacional quebrar, enquanto a poupança está submetida ao risco apenas do banco quebrar
Liquidez- Ambos possuem liquidez diária, porém, a poupança não rende até que chegue seu aniversário e o Tesouro Selic possui remuneração diária.
Retorno- Na alíquota máxima de IR (22,5%) o Tesouro Selic tem uma rentabilidade de 77,5%. Ou seja, 10,7% a mais que os 70% da poupança.
Abaixo está a comparação da rentabilidade da poupança e do Tesouro Selic de 2012 a 2016. Nesse exemplo, não está considerado o Imposto de Renda.
No caso, um investidor que aplicou R$5.000 na poupança em 2012 teria deixado de ganhar aproximadamente R$1.200 nesse período. Isso dá mais de 20% de diferença.
Relação entre SELIC, inflação e poupança
Selic x inflação
Primeiramente, devemos elencar alguns dos motivos que geram aumento geral de preço no país. Por exemplo, o aumento da demanda e a diminuição da oferta.
Pensando em conter a inflação, o governo utiliza um mecanismo de controle sobre o consumo de bens. Através da taxa SELIC, a taxa básica de juros, o Banco Central (BACEN) aquece e esfria a economia.
Se a inflação fica acima da meta, o BACEN aumenta a taxa de juros para diminuir o dinheiro em circulação, contendo a expansão de crédito e, assim, evita que a inflação dispare. Ou seja, o governo utiliza a Selic para criar uma redução artificial na demanda. Mas vale lembrar que, quando a SELIC aumenta, o juro sobre a dívida pública cresce.
Dessa forma, o governo sempre procura reduzir a Selic para que possa diminuir sua dívida, então, quando a inflação volta a estar na meta a Selic cai. E assim sucessivamente.
Rendimento real do Tesouro Selic e da poupança
Aqui se torna claro que o rendimento do Tesouro Selic é muito maior que a poupança, mesmo que ambos estejam relacionados com a Selic. Também é claro como o primeiro investimento tem rentabilidade superior à inflação, enquanto o segundo, às vezes, nem consegue superá-la.